quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Tá explicado!

Eis que vem de uma frase de um desconhecido no Facebook a explicação: o Oscar de Leonardo DiCaprio desregulou o andamento da Terra. 

Concordo muuuuuuito. Acredito no efeito borboleta. Foi isso o que aconteceu. Daí as confusões todas que estão assolando o mundo e as pessoas em 2016. Que ano! 

Subitamente todos os padrões de normalidade mínimos foram abandonados. Em um zás. As pessoas perderam o espírito crítico,  a capacidade de ligar cré com cré e lé com lé, o bom senso. Que ano! 



 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Clinch de corredor

Clinch, no boxe, é uma forma de livrar-se de uma eventual sequência de ataques desferidos pelo oponente, imobilizando os braços do mesmo com um abraço.

Whippet é uma raça canina do grupo dos galgos oriunda do Reino Unido. Estes caninos são conhecidos como potentes caçadores e atletas natos, em vista de seu físico aerodinâmico. São considerados de aparência elegante e aparentemente delicada. Apesar de requererem bastante exercícios, estes cães são calmos em casa, o que os torna bons animais de companhia. De pelagem curta e fina que apresenta-se em variadas cores, necessita de casacos durante o inverno. Podendo medir até 70 cm e pesar 25 kg, é classificado com um cão de médio porte cujo adestramento apresenta dificuldade moderada para donos inexperientes.

Tirei essas duas definições da wikipédia.

Eu não tinha percebido que era um Whippet. Mal identifiquei aquele negócio fininho, branco e cinza, como um cachorro. Passou pela minha frente, pela beira do mar, a cem por hora. O alvo: minha cadelinha salsicha, que estava escavando o vigésimo buraco em busca de um siri (ou parente). Ela tomou um susto tão grande que saiu em desabalada carreira com ele no seu encalço. Percebendo que aquele magricelão ia levar a melhor, a bichinha entrou mar adentro, não sei se para fugir ou para tentar o suicídio. Quando eu a alcancei nadando enlouquecida, a água já estava quase na minha barriga, o que, para um dachshund, significa uma profundidade abissal. O atlético canídeo estava quase submerso, mas seguia pulando as ondas. Não sei até onde iria a tenaz perseguição se eu não tivesse aparecido para o espetacular resgate. Fim da parte I.

Decido chamar os donos daquele desajeitado animal adolescente esganiçado que não parava de encher o saco da minha cadela, ainda apavorada, mas em segurança, no colo do meu namorado. Me aproximo do cão imberbe e da menininha, sua provável proprietária mirim, de uns seis ou sete anos. A bisquinha deitou no chão falando que estava cansada de correr até o cachorro. Eu falei para ela chamar o pai dela, para prender o cão. Ela falou que o cachorro era da mãe dela.  E eu: Então chama a tua mãe. E ela: Para quê? (guria burra). E eu: Para prender o cachorro. E ela: (... cara de guria burra mesmo). E eu: Cadê a tua mãe? E ela: Lá no fundo. Olho lá no fundo e vejo a mãe vindo em passo de tartaruga perneta na nossa direção. Uma pressa arretada... Ô paciência... Penso que devia ter dado uns cascudos na guria bocó antes de ela chegar. Teria dado tempo de sobra. Olho para o cachorro e... cadê o cachorro? Perseguindo minha outra cadela! E lá vem a outra salsichinha, pedir colo, que o impertinente não para de cheirar a pepequinha dela. Fim da parte II.

A parte III  foi a mais rápida, mas a mais emocionante. De cachoro de corrida, o tal do whippet, que se chamava Fly, ou Flai, virou um lutador de boxe. Foi  eu pegar a cadela 2 no colo e ele começou a pular em mim. Quando em empurrava ele para longe, ele voltava com um clinch e eu não conseguia me soltar. Num desses lançes, ele baixou minha sunga, expondo meu belíssimo patrimônio a dois casais de terceira idade que observavam sem ação. E seguem-se pulos, eu elevando cada vez mais a cadelinha, para que ele não a alcançasse, e ele pulando cada vez mais alto. E me abraçando pela frente, pelo lado, por trás!! Parecia um polvo com patas de cachorro. Cruzes. Foi quase uma sessão de drenagem linfática, tanto o bendito me espremeu.

A parte IV começa com a dona dele chegando e mandando ele parar. E ele parando. Ela, a mãe molenga, espantadíssima, querendo saber se tinha sido ele que fizera "aquilo" comigo. E, na sequência, eu me olhando e descobrindo porque lutadores de boxe usam luvas...Meu corpitho estava todo lanhado! Parecia que eu tinha sido chicoteado por duendes!!! Várias, mas várias escoreações. "Aquilo" me apavorou ligeiramente. Deixei a cadela 2 e a cadela 1 com o namorado e entrei no mar para tentar limpar de alguma forma os incontáveis arranhões. Nunca repita isso em casa, sem o acompanhamento de um adulto responsável...Ardeu muuuuito. Parecia um ataque de mães d'água e caravelas ao mesmo tempo. Pqp! Bora casa passar água oxigenada (aí sim descobri o que é arder!), lavar com sabão e torcer para que não infeccione nada nem me dê tétano ou alguma coisa igualmente pavorosa.

Amanhã, 48 horas após o ataque, vou fazer um reforço da minha vacina anti-tetânica, que está mais do que vencida. Vou, também, mostrar para algum profissional da saúde um dos cortes na minha cintura, que está muito esquisito, com um peixinho vermelho no entorno. Os demais estão bem sequinhos, a caminho da cura. Se tudo correr bem, amanhã volto ao blog e concluo a parte V. Caso contrário (glup, esse arranhão tá muito horrivelzão), esse parágrafo aqui fica valendo como o capítulo final...


domingo, 17 de março de 2013

O Substituto

Adrien Brody. Aquele narigudo compridão do ótimo O Pianista, do Roman Polanski. É ele quem vive o protagonista de O Substituto.

Para algumas pessoas um filme chato. Para quem teve uma mínima experiência como docente em escola pública (meu caso), tocante. Para quem é professor, imagino que traduza muitos sentimentos comuns.

"Nunca me senti tão profundamente, em um único e mesmo momento, tão separado de mim mesmo e tão presente no mundo". O filme começa com essa frase de Albert Camus.

Eu, que sempre tive a impressão de não participar muito ativamente daquilo a que se chama senso comum, amei. Sempre que quis ficar igual aos outros acabava inevitavelmente ficando diferente de eu mesmo. E por vezes achei que todos eram felizes com os papéis que lhes cabiam. Assim, por simples e direta constatação, o erro estava em mim. Para estar presente no mundo, só sendo um outro.

Pois bem. Na relação desse professor substituto, e de seus colegas, com alunos sem perspectiva, que nem mais perseguem ideais que improvavelmente conseguiriam alcançar, está espelhada a realidade de quase todas as escolas. De quase todos os jovens.

Para as escolas, sejam elas publicas ou particulares, será que lidar com essa gurizada cabeça oca está fácil? Esse bombardeio de estímulos de consumo e de repressão ao pensamento autônomo nunca aconteceu dessa forma tão constante. Concordo que é um processo que vem tomando forma há mais tempo. De endemia a epidemia. Mas agora é uma pandemia. Será que há como não sucumbir à desesperança? 

Querem ser iguais, não conseguem, se revoltam, mas não buscam mudar as coisas. Por incapazes. Não aprenderam a criar. Se não podem imitar, sofrem. A luzinha ínfima com a qual o professor alumia (sim, essa palavra existe) o tunelzão de incertezas que eles vivem, passa despercebida.

Fosse eu, deixaria a peteca cair. Talvez entrasse em depressão ou em uma clínica para loucos perigosos. Quanto aos professores que conheço, acho que um ou dois enfrentariam bravamente o dragão. Pois, lecionando há anos, permaneceram completamente imunes à insanidade e, pasmem,  felizes. Esses tem a real vocação. E sua lanterninha vira um holofote no caminho dos seus alunos. 

Mas não só isso me atraiu nessa historinha. Também o modo como o protagonista evita aprofundar os laços com quem quer que seja, é muito, digamos assim, familiar...

Olha, é esquisito. Não que eu tenha achado um filmaço, mas... mexeu com umas coisinhas que eu nem lembrava mais o quanto me angustiavam. Meio chatão, mas eu recomendo. 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Boca Louca

A boca só fala do que está cheio o coração. Foi isso que um amigo meu falou para outro amigo em resposta a um palavrão qualquer. Acontecimento de uns muitos anos atrás, da minha adolescência, que ocasionalmente vem à lembrança - o que me preocupa um tanto, já que é sabido que eles, os velhos, guardam memórias antigas em detrimento das recentes...hummm...

Mas não é de idosos que eu quero falar. É de depressão. Ou de um seu parente um pouco mais amemo. De um cansaço generalizado, de uma vaga certeza de que já vi esse filme antes e achei um porre... Quando a gente se sente assim, mesmo que tenha uma natureza alegre, festiva, exuberante, esfuziante (tá, sem exageros), não dá vontade de falar de qualquer coisa que não seja aborrecida, irritante, chata. O coração se enche de falta de saco para aturar todo mundo - encher de falta não é ótimo?? - e a boca vira os cantos para baixo e fica resmungando e maldizendo tudo e todos.

Aí vem a fantástica lei da ação e reação. Um chato atrai outro chato (ops, acho que essa é a lei da atração, mas não são os opostos que se atraem??).  Fico ranhetando aqui, alguém se sente atingido ali e devolve uma careta mal-humorada acolá(esta sim a lei do bate e volta!). Se só falo de coisas idiotas,  fico povoando minha cabeça de bobagens que me deixam ainda mais desgostoso com tudo. 

Essa história de neurolinguística parece acertar quando compara o cérebro a um arquivo de memórias. Falamos uma palavra qualquer e ele vai buscar no banco de informações momentos, lembranças, fatos que tenham alguma ligação com esta palavra. Assim quando ficamos maldizendo um momento, lá vai o cérebro vasculhar situações em que já tenhamos vivido esse mal-estar. E vamos criando uma rede de porcarias mentais que, nem entendemos bem a razão,  nos deixam mais aborrecidos.

Mas e não é melhor falar muito e muito e muito do que nos perturba para tentar trazer para o consciente aquilo que está realmente nos incomodando, e então obtermos a desejada cura? (Acho que isso é Freud) Sei não... Talvez com o acompanhamento de um profissional ou de uma camisa de força isso seja possível, mas assim, sozinho, no caroço do peito? Difícil.

Então o que fazer? O que veio antes, o pato ou a galinha??? As orelhas nunca param de crescer? O Mickey era gay?São tantas as minhas dúvidas que acabo me estressando. E o estresse me deprime. E a depressão me dá insônia. E insone eu não calculo nem para me esconder. E, falando em esconderijo, a dúvida maior: gato escondido com o rabo de fora está mais escondido do que o rabo escondido com o gato de fora??? Hein??

Se a boca fala do que está cheio o coração, ao invés de um infarte ele agora deve estar tendo um surto cárdio-psicótico! 


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mens sana in corpore sano...

E eis que durante uma das minhas múltiplas atividades, havia acabado de pintar uma cadeira e decidi tirá-la de cima da mesa. Somente as perninhas estavam secas. Não titubeei: levantei a bicha pelas pernas de trás, segurando-a na altura do peito. Cara fortão!! Ato contínuo, abaixei-me até depositá-la suavemente no chão. 

Para este singelo movimento usei alguns músculos, a saber: os bíceps, outros dos braços, o peitoral, diversos abdominais, diversos das costas, alguns do pescoço, uns bundais, o quadríceps, músculos das panturrilhas e alguns faciais. Sim, especialmente aqueles que movem a boca para gritar:  P*** que p****!!!!!! 

Estava feito o estrago! Entortei de um jeito as costas (e o resto de mim) que não conseguia mais nem abrir as mãos para soltar a cadeira!!! Situação recorrente, há outro post sobre uma situação parecida. Morrendo de dor, me estiquei corajosamente  assumindo o meu já tradicional formato aranha-esperando-uma-mosca-cair-na-teia-para-pular-em-cima-dela (mais ou menos o mesmo formato de um-gato-fazendo-fsssss, sabem como é, né?), postura essa que desfilei sem constrangimento algum durante uma semana, envergando um pouquinho mais a cada dia,  a dor aumentando e a imobilidade atingindo mais grupos musculares, até ser obrigado a optar entre adquirir uma cadeira de rodas féxion e ir ao médico.

Decisão tomada - opção b, mais em conta  - recebi, junto com a receita de um relaxante muscular paulada, uma bronca por não estar me exercitando e a indicação para retornar ao pilates: Temos que cuidar do nosso corpo, a saúde é o nosso maior patrimônio!!, falou-me o sábio mediquinho (medicozinho remeteria a outro tipo de atividade, mais para medicina alternativa), do alto da sua juventude elástica.

Saco! Exercícios me estressam e acho que houve alguma falha na compreensão da expressão  mente sadia em corpo sadio. É preciso ter um corpo saudável para não pirar na batatinha?  Não, definitivamente deveria ser o exato oposto: o reflexo de uma mente saudável seria um corpitcho em dia!! Você não quer sofrer nunca mais com dores lombares? Já para a rede ler um bom livro! Quer uma bunda durinha e empinada? Bora assistir a um filme cabeça, de preferência esticadão no sofá!

O fato é que, enquanto essa natureza boboca não apropria meus princípios elementares de saúde, tento seguir à risca a recomendação dos exercícios. Três sessões por semana são minha dose extrema de sacrifício para um corpo saudável e durinho. 

Tá. Saudável. Porque para chegar ao durinho, teria que ralar muuito na musculação e aí a mente sana iria para as cucuias,  porque a trilha sonora das academias desta terra é constituída de uma inacreditável pleilist inteirinha de forrós. De enlouquecer gente sã!

Mens sana in corpore sano... como na recomendação do poeta latino Juvenal (sim, acabei de pesquisar na Internet, não vou me fazer de erudito) vou incluir esse pedido nas minhas orações.


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Bonequinha de Luxo

Assisti ontem Bonequinha de Luxo, um filme de 1961, dirigido por Blake Edwards, e protagonizado por Audrey Hapburn, que considero o modelo de beleza feminina. Esbelta, chique, linda!

Mas, embora recomende ver ou rever, não é sobre a película que vou falar. É sobre minhas cadelas. Estou agora compartilhando o sofá do escritório com ambas. Senhorita Cléo enrolada sobre uma almofada de seda, é a própria bonequinha de luxo. Magrinha, delicada, cheia de frescuras cadelísticas. Já senhorita Victória esticada sem o menor glamur, respirando pesadamente, exalando uma cadelagem sem qualquer estirpe.

São da mesma raça, têm praticamente o mesmo peso, mas antagonizam absolutamente no quesito estilo. Que Audrey Hapburn tem de sobra, como Cléo. Um certo ar blazé, de quem sabe o que quer, de quem sabe quem é. Não abana o rabo para qualquer um (Cléo, não Audrey). Não é simpática. Não vai com todo mundo. Não se vende por comida. Um gênio de cão!

As pessoas, de modo geral, tendem a gostar mais de Vicky, que é de uma alegria contagiante. Implicam com a bonequinha distante e arredia...

Quando percebo que alguém faz festinha só para a cachorra que tem comportamento canino (previsivelmente canino ou caninamente previsível), lembro da frase de um sujeito,  por quem nutro algum respeito e que, posso afirmar com absoluta convicção, não é um psicopata:


"Sim, socialmente desajustado. Agora posso dizer isso sem sofrer. Pelo menos sem sofrer muito. Até uns quarenta e seis anos atrás eu sabia que era diferente e tudo o que eu mais queria era ser igual. Permaneço reconhecendo minha estranheza, mas já não resisto. Aceito que penso e sinto de um jeito socialmente reprovável."

Cleozinha é um pouco assim. Tem um jeito socialmente reprovável. Socialmente desajustado. Mas ela não sofre. Tampouco sofreu alguma vez ou quis ser igual.  Hoje eu  amo esta singularidade. Mas logo que ela chegou, quem sofria era eu! Cheguei a pensar que havia errado alguma coisa na educação dela! Tudo o que eu mais desejava era que ela fosse uma cadela igual a todas:  "normal", básica, previsível,  como uma cachorra  padrão deve ser.

Por isso entendo que é bem difícil amar assim, de cara, quem não está dentro dos nossos parâmetros de aceitabilidade. Criamos uns limites e uns enquadramentos bobos, baseados naquilo que é mais... comum. Saiu fora do comportamento padrão e tchum! Erguemos uma barreira. Gente entranha, com jeito esquisito. Sem chance de comunicação. Sem possibilidade de afeto.

 A bonequinha de luxo do filme era uma garota de programa. Mas linda, elegante e socialmente ajustada. Tinha um comportamento reprovável? Talvez. Mas se enquadrava a determinados padrões vigentes naquela época. Então era fácil gostar dela.

Mas quem foi que disse que é um problema ser socialmente desajustado? Será que como acontece com Cleozinha, não seja justamente este o grande diferencial??